Lançado em 2004 e com abertura prevista para 2007, resort de altíssimo luxo em Itacaré, no sul da Bahia, se deteriora na floresta
Os 40 bangalôs, "escondidos" entre a mata nativa para garantir máxima privacidade aos hóspedes, estão lotados de teias de aranha e folhas mortas apodrecendo nos espelhos d'água. Perdidas no meio da floresta, essas grandes construções de ardósia, madeira e vidro, em diferentes estágios de finalização, são hoje cenário de beleza e desolação.
Planejado para ser o primeiro 6 estrelas do País, o Warapuru Resort está abandonado há cinco anos. Estima-se que mais de R$ 180 milhões foram gastos nas instalações: recepção, beach club, 40 bangalôs, além de 17 casas particulares e uma cinematográfica estrada sobre a copa das árvores. Todo esse patrimônio se deteriora, inacabado, enquanto aguarda o desfecho de uma intrincada trama envolvendo falta de dinheiro, problemas judiciais, falência da incorporadora e desentendimento entre credores (leia abaixo).
O português João Vaz Guedes, cuja família fundou a construtora Somague, responsável por obras de infraestrutura em Portugal, idealizou o Warapuru. Descrito como "visionário" e "megalomaníaco", Vaz Guedes encomendou o projeto ao escritório londrino de arquitetura e design Anouska Hempel - responsável por hotéis boutique em Londres e Amsterdã.
"Quando me pediu para assumir esse projeto, João me levou até o local e disse: Fique aí por um momento, Anouska, e me diga o que fazer", contou Anouska Hempel em entrevista ao Estado, de Londres. De sua inspiração, nasceu uma "cidadela" de mármore no meio da floresta, "influenciada pelas culturas maia e egípcia". "É um trabalho de grandeza minimalista em um lugar, muito, muito poderoso", entusiasma-se.
No Brasil, o escritório de arquitetura Bernardes+Jacobsen, foi contratado em 2003 junto com o escritório da arquiteta Cassia Cavani, que cuidou do desenvolvimento. Segundo Cassia, tudo - da disposição dos bangalôs e casas às estradas - foi pensado para interferir o mínimo possível na vegetação local.
Ela lembra de ter tido divergências técnicas com o escritório londrino e discussões acaloradas com Vaz Guedes. Ainda assim, espera ver o hotel pronto. "Apesar dos problemas que tivemos, é um trabalho especial. Se alguém, algum dia precisar da minha colaboração serei a primeira a ajudar."
Um dos pontos mais criticados por pessoas próximas a Vaz Guedes, que não quiseram se identificar, é justamente a contratação do escritório de Anouska Hempel. Ao ouvir "o canto da sereia", de uma design celebridade sem conhecimento arquitetônico e pródiga em gastar dinheiro, o empresário português teria começado a selar o destino da empreitada.
Outro passo em falso teria sido a contratação do executivo de origem suíça Bernard Mercier como CEO. Mercier não deixou boas recordações em Itacaré. É lembrado como uma pessoa "arrogante", "intratável" e "incompetente" - para ficar nos adjetivos mais leves.
A extravagância tropical, no entanto, foi um sucesso de público e crítica. Assim que o projeto foi lançado, em 2004, com abertura prevista para 2007, a revista do The New York Times descreveu o Warapuru como "o refúgio mais exclusivo do Brasil" e a prestigiada revista Wallpaper o chamou de "esconderijo ao estilo James Bond".
Já as 17 vilas, de diferentes dimensões e a partir de US$ 1.2 milhão, foram todas vendidas logo após o lançamento. A maioria dos compradores, formada por empresários estrangeiros e ricaços oriundos do mercado financeiro, ainda não sabe quando poderá passar férias por lá.
Lançado com pompa e estardalhaço, o Warapuru Resort hoje amarga um duro anonimato e futuro incerto. Fora do sul da Bahia, pouco se ouve falar no empreendimento.
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