![hitler](http://semema.com/wp-content/uploads/2013/11/hitler.jpg)
Só um alerta importante, a base da
discussão que vai ser desenrolada nesse artigo: não é por não estar
manifesto o discurso extremista que o extremista não existe (nem seu
discurso). O pouco espaço para que expressões racistas, homofóbicas,
xenofóbicas e misóginas sejam veiculadas não implica na inexistência
dessas formas de pensamento, não quer dizer que foram erradicadas de
nosso meio, como pode parecer.
Quando vemos algum post, artigo,
matéria, meme, seja lá o que for, com conteúdo fóbico, de expressão de
ódio sem razão (ou com razão, da parte do odiador), a prática mais comum
dos dias atuais é denunciar pelo feed do face, convocar a massa ao
linchamento virtual, cheios de ódio, abismados com a existência de gente
com tal tipo de pensamento, defendendo ideias tão absurdas.
O problema é que a net é um ninho de
Trolls (criaturas sebosas que pregam peças assumindo papéis virtuais
odiáveis, embora, muito comumente sejam partidários das ideias que
afirmam serem apenas pura ironia), com um poder incrível de viralização
de suas ideias fanfarronas, com alto potencial polemizador. Por meio da
“brincadeira” dessas figuras típicas do meio online (no ar desde a época
de chats como o MIRC, normalmente com vasto conhecimento de
programação), alguns efeitos colaterais
interessantes ocorrem, permitindo uma leitura prodigiosa da realidade
ideológica contemporânea.
![misoginia](http://semema.com/wp-content/uploads/2013/11/misoginia-na-publicidade-03-298x300.jpg)
Curiosa a dificuldade de surgir alguém
que produza uma contrapartida coerente, esclarecedora, que use a
estrutura argumentativa exagerada do articulista radical para promover
uma reflexão mais proveitosa, contribuindo com um volume maior de
informações racionais, profundas e coesas sobre por que tal tipo de
conduta é reprovável. A reação animosa, hostil, praticada pela grande
maioria da audiência, acaba por equivaler o discurso esdrúxulo do
agressor ao do agredido, o famoso “perdeu a razão”.
Essa constatação leva a crer que, das
duas uma: ou estamos em uma era dourada em que a intolerância não tem o
menor espaço, todos defensores do mundo generoso e benfeitor que está ao
nosso redor; ou, o que me parece mais provável, não temos argumentos
claros para defender a igualdade de gêneros e a aceitação e tolerância
das diferenças. Esses conceitos são novos, a construção desse mundo
idílico de convivência respeitosa legítima é recente, as bases ainda não
são sólidas. Somos racistas e sectários há milênios, não se faz a
igualdade em décadas.
![INTEGRALISMO](http://semema.com/wp-content/uploads/2013/11/INTEGRALISMO-90-300x255.jpg)
Causa temor perceber que um conjunto de
ideias tão descaradamente reprováveis sejam tão fragilmente repelidos,
com armas identicamente irracionais.
Não se trata de aceitar a conduta desse
grupo, mas de aceitar o fato de que ele existe. Impedir que blogs como
esse estejam no ar, que nazistas se expressem, não impedirá que eles
existam, que atuem, que agremiem outros psicopatas. É preciso conhecer
esse modo de pensar, destrinchar os caminhos tortuosos pelos quais uma
mente doentia dessas constrói seu discurso e sermos capazes, enquanto
sociedade organizada, de dar conta dessas bizarrices de forma tão
consistente que não permita o desenvolvimento de sentimentos
semelhantes. O nazismo floresceu não com um monte de alemães
filhosdaputa, malditos que deveriam queimar no fogo do inferno, mas de
gente como nós, minha mãe, o padeiro, pessoas normais.
Trata-se aqui da batalha poderosa pela
formação da “opinião pública”, a mesma que suportou o levante do
terceiro reich, que apoiou as ditaduras na América Latina, que permitiu o
stalinismo, o franquismo, o apartheid. O que chamamos de Sociedade é,
em grande medida, o embate de forças pela disputa da supremacia
ideológica, do discurso que predomina.
Queremos
crer que estamos construindo uma sociedade mais justa e igualitária,
mas a consagração desse modelo de pensar passa pela construção constante
dos pilares que o sustentarão, ou seja, argumentos sólidos, claros,
ideias cada vez mais evidentes de que somos iguais, temos direito de
expressar nossa sexualidade como bem entendermos, que nossas distinções
não são instrumento de juízo de valor (não há diferença que gere
superioridade ou inferioridade), mas sutilezas da constituição de nossa
raça, a humana.
Nada disso é óbvio, nem a preservação do
ambiente que nos abriga é tão óbvia quanto pode parecer. Se fosse,
seria mais fácil defender-se de ideias extremistas e articuladores de
discursos fóbicos seriam objeto de desprezo e riso, como personagens de
um passado remoto que estranhamente insistem em existir. Portanto,
conclamo a todos os incomodados: produzam e distribuam um discurso
inteligentemente contrário ao sectarismo e evitem multiplicar a
trolagem.
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